Carlos San Bento, 73 anos. “Estou mais perto dos 74 do que dos 73”, disse-me quando começamos a conversar. Reformado, costuma passar os seus dias na companhia dos seus "amigos da vida". Antes da reforma, tinha sido pedreiro; começou nessa posição e depois foi "subindo devagarinho" até chegar a encarregado de pedreiro. "Eu só tenho a 4ª classe, o que naquela altura era normal. A vida era melhor do que agora, para mim era melhor... não faltava trabalho, agora as pessoas querem trabalhar e não podem. Mas antigamente também passávamos necessidades, a minha mãe morreu quando eu tinha 12 anos e passamos um pouco mal. Mas eu casei aos 18, já não tinha ninguém por isso tinha de ser." No que diz respeito ao trabalho, conta que, independentemente das chuvas, vento e todas as outras adversidades, ia sempre trabalhar e "o que aparecia era isso mesmo, qualquer coisa". Tudo menos trabalhar como pescador, porque confessa entre risos que não sabe nadar: “uma vez fui com um mestre para o mar mas pedi logo para voltar para terra. Não sou homem do mar, vivo aqui ao lado mas tenho muito medo e respeito pela água”.
Sem conseguir conter as gargalhadas, conta que teve 13 filhos porque "não havia televisões antigamente!”. Foi-lhe difícil criar 13 filhos, mas mesmo assim sente que vivia melhor na altura do que agora: "não havia doenças nem nada... nem luz havia, eles cresceram sem electricidade e mesmo assim fizeram a sua vida, cada um seguiu a sua vida e tão estão todos bem!”, diz satisfeito.
Infelizmente, a sua esposa não está bem de saúde, e, com um ar um pouco resignado diz-me: “já não espero muito disto... já criei os meus filhos, está tudo bem. Isto agora é como diz o outro, é 'à espera da cova'. A minha mulher está acamada, eu estou meio doente... as doenças é que levam a gente à cova, agora é esperar. Aproveitar e passar tempo com os amigos”. Tudo de bom para si, Sr. Carlos.
Lagoa. 19 de Fevereiro de 2016
Rui Soares
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