Sandra Tavares, 43 anos. Conhecia Sandra enquanto esta fazia uma pausa para um cigarro. Disse-me que a vida não anda muito fácil porque esteve sete anos sem trabalhar, mas agora felizmente conseguiu um emprego. “Eu trabalhava na fábrica da Bel, mas saí pelo meu próprio pé depois de 17 anos lá. Comecei a namorar mas o meu pai não queria, por isso fuji para casar!, fugi para o Faial para casar com o meu marido… fui atrás do meu amor”, diz-me com a voz mais dócil que podia ouvir. “Estivemos juntos 7 anos, mas infelizmente ele faleceu... era mais novo do que eu mas ele teve problemas do coração. Tivemos dois filhos, mas vê só, eu fugi para casar e, no final de 9 meses, voltei para São Miguel porque o meu marido decidiu vir para cá! Mas não estou nada arrependida, fazia tudo de novo outra vez”, diz cheia de convicção.
Quando lhe perguntei sobre o seu futuro no que diz respeito à vida amorosa, respondeu-me: “eu não vou querer mais nenhum homem, e eu não quero dar padrasto aos meus filhos, não se sabe o dia de amanhã mas estou muito longe de voltar a ter outro homem. Ele não foi o meu primeiro amor, mas foi o que me marcou para a vida, e hoje em dia - até porque foi há 3 anos - eu tenho muitas saudades do meu marido, até das birras dele e da ciumeira. Discutíamos muito porque ele dizia uma coisa e eu dizia outra, mas até disto eu tenho saudades.”
Conta-me que gostaria de ter sido professora, mas o seu pai era "uma pessoa muito antiga e para ele as raparigas são sempre pequenas, não crescem. Tanto que eu apenas fugi aos 34 anos, sempre com medo dele. Ele é uma pessoa demasiado idosa e rigorosa. Mas levei a minha vida assim, é a vida”, diz-me resignada, mas sempre com um sorriso na cara. Diz-me que não é feliz porque sente sempre um vazio dentro de si desde que o seu companheiro faleceu: "sabes, às vezes penso em ir ter com o meu marido... quero ver os meus filhos crescerem mas o vazio é muito forte. Ainda continuo apaixonada por ele. Mas o amor que sinto pelos meus filhos dá-me forças para seguir sempre em frente. Quero que um deles seja engenheiro e outro doutor, mas eles gostam mais de vacas e de ser lavradores”, contou-me a rir. Despedimo-nos com um grande abraço e desejei-lhe tudo de bom para si e para os seus filhos.

Ribeira Grande, 26 de Janeiro de 2016
Rui Soares