Maria Oliveira, 72 anos - Se eu quisesse não conseguia encontrar tantos portugueses cá em Paris.
A Maria é portuguesa mas vive cá "há meio século”. Veio para França por uma razão não muito “comum”. “O meu avô esteve a combater pela França e eu desde sempre que disse que gostava de vir para onde o meu avô morreu. Ele está enterrado por aqui”. É porteira em prédios desde que para cá veio. Encontrei a Maria na Place De La République, local onde estão milhares de velas, bandeiras de quase todos os países e mensagens de familiares, amigos ou desconhecidos, aos falecidos dos atentados em Paris. Desde o ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo que esta praça é local de homenagem, que mais se intensificou nos atentados de 13 de novembro do último ano.
Reparei na Maria porque estava a arrumar e a limpar a base da estátua onde se encontravam as homenagens. Falei inglês com ela, dizendo que sou português e ela diz-me, com um grande sotaque que “pode falar em português”. Surpreendido continuei a conversa.
“Estou a fazer isto por eles. Morreram centenas de pessoas, não as pude ajudar e esta é a minha única maneira de ajudar os familiares e homenagear os falecidos.”
Vem à Praça da República todos os dias desde os ataques ao Charlie Hebdo. Todos os dias vem de manhã bem cedo limpar e arrumar os memoriais e todas as noites vem acender a maior parte das velas que aqui existem. Vive perto do Bataclan e conhecia-o bem. “Lá dancei muito. Ia lá dançar com as minhas amigas quando não haviam concertos, naquela sala de espetáculos faziam muitos bailes". Contei-lhe que o proprietário do Bataclan resolveu pô-lo à venda. Quando lho disse baixou a cabeça e emocionou-se, pedindo-me desculpa. “Não sei se alguma vez aquilo será comprado e volte a ser o que era – uma sala de espetáculos – não sei quem é que conseguirá ir divertir-se num sítio onde morreram tantas pessoas", acredita. Diz-me que naquela sexta-feira, 13 de novembro, perdeu dois amigos dentro daquilo a que chamou de “ringue”, e voltou a emocionar-se. “Agora percebe melhor o porquê de vir aqui todos os dias não é?”
Paris, 29 de janeiro de 2016
João Porfírio
A Maria é portuguesa mas vive cá "há meio século”. Veio para França por uma razão não muito “comum”. “O meu avô esteve a combater pela França e eu desde sempre que disse que gostava de vir para onde o meu avô morreu. Ele está enterrado por aqui”. É porteira em prédios desde que para cá veio. Encontrei a Maria na Place De La République, local onde estão milhares de velas, bandeiras de quase todos os países e mensagens de familiares, amigos ou desconhecidos, aos falecidos dos atentados em Paris. Desde o ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo que esta praça é local de homenagem, que mais se intensificou nos atentados de 13 de novembro do último ano.
Reparei na Maria porque estava a arrumar e a limpar a base da estátua onde se encontravam as homenagens. Falei inglês com ela, dizendo que sou português e ela diz-me, com um grande sotaque que “pode falar em português”. Surpreendido continuei a conversa.
“Estou a fazer isto por eles. Morreram centenas de pessoas, não as pude ajudar e esta é a minha única maneira de ajudar os familiares e homenagear os falecidos.”
Vem à Praça da República todos os dias desde os ataques ao Charlie Hebdo. Todos os dias vem de manhã bem cedo limpar e arrumar os memoriais e todas as noites vem acender a maior parte das velas que aqui existem. Vive perto do Bataclan e conhecia-o bem. “Lá dancei muito. Ia lá dançar com as minhas amigas quando não haviam concertos, naquela sala de espetáculos faziam muitos bailes". Contei-lhe que o proprietário do Bataclan resolveu pô-lo à venda. Quando lho disse baixou a cabeça e emocionou-se, pedindo-me desculpa. “Não sei se alguma vez aquilo será comprado e volte a ser o que era – uma sala de espetáculos – não sei quem é que conseguirá ir divertir-se num sítio onde morreram tantas pessoas", acredita. Diz-me que naquela sexta-feira, 13 de novembro, perdeu dois amigos dentro daquilo a que chamou de “ringue”, e voltou a emocionar-se. “Agora percebe melhor o porquê de vir aqui todos os dias não é?”
Paris, 29 de janeiro de 2016
João Porfírio
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