Hugo Santana, 38 anos - Encontrei o Hugo hoje em Lisboa ao final do dia. E este estranho não é tão estranho assim pelo menos para mim. Quando éramos miúdos, a mãe dele e o meu avô trabalhavam na mesma firma nas Caldas da Rainha e chegamos a brincar juntos. Os anos passaram e só esporadicamente soubemos alguma coisa um do outro. O Hugo tirou design gráfico e chegou a trabalhar na área mas em Portugal são mais os trabalhos à borla que conseguia que praticamente desistiu desta área. Quando o encontrei hoje trazia uns currículos na mão, tinha passado o dia a entrega-los. "Miguel já estou por tudo, faço qualquer coisa. Olha há pouco tempo andei duas semanas a trabalhar como trolha, precisava mesmo do dinheiro, e se queres que te diga até gostei. Não tinha de pensar em nada, apenas fazer, é até libertador e ainda se bebe uns copos". O Hugo também passava som em festas "também já me fartei de trabalhos na noite e esporádicos, agora quero calma na minha vida, preferia uma coisa certa, é disso que ando à procura". Perguntou-me pela minha filha e disse-me que tinha um filho de quatro anos "ele está óptimo mas não estou com a mãe dele e ele vive com ela. Também não estou sozinho. Não é que não goste de estar sozinho mas elas aparecem e tenho tido sempre relações longas. Não gosto de casos e acho que tenho sorte, consigo sempre apaixonar-me e sinto sempre que com quem estou que é o amor da minha vida, quer dizer se não achasse também não estava com elas". Pedi-lhe se ele aceitava entrar no nosso projecto e ser fotografado e a rir disse-me "não sou nada fotogénico, ou tens mesmo jeito ou então não te safas!". Desejei-lhe sorte na sua procura de trabalho e descobrimos que somos quase vizinhos. Um dia destes continuamos a nossa conversa.

Lisboa, 28 de Janeiro de 2016
Miguel A. Lopes