Edita Abrão, 69 anos. Encontrei a Edita enquanto estava a fazer uma pausa, nas traseiras do café onde trabalha. É natural do Rio de Janeiro, Brasil. Começou por me dizer que trabalha naquele café para ganhar algum dinheiro extra. "Gosto mesmo de trabalhar no atendimento ao público e com gente nova. Faz-me sentir rejuvenescida". E surpreendeu-me ao contar que tem um mestrado em Psicologia. "Mas apenas exerci durante um ano, ainda no Brasil". Pergunto-lhe porque motivo deixou de exercer. "Porque me casei com um antiquário. E aí, desenvolvi uma paixão enorme pela arte, tanto que decidi fazer os cursos de História de Arte e Restauro, em Londres, no museu Victoria and Albert ". Então, já em Portugal, há 25 anos que faz restauro de arte. "Quando não estou no café estou no meu atelier, a trabalhar. Tenho lá algumas peças datadas, por exemplo, do século XVII, nas quais ando a trabalhar, neste momento". Diz que tem imenso trabalho. Mas os preços de hoje em dia já não são os mesmos de antigamente. Recorda-se de uma história, que aconteceu há quase 20 anos. Pediram-lhe um restauro de um pequeno cavalo de marfim, com uma pata partida. "Na altura do processo de recuperação, percebi que alguém já tinha mexido na peça. E a perna, como não era em marfim, acabou por derreter. Mas optei por não contar ao cliente e recuperei a perna toda". Resultado: "O cliente ficou satisfeito, até porque a peça, na época, valia mais de 300 contos, cerca de 1.500 euros".
Lisboa, 5 Janeiro 2016
Rui Miguel Pedrosa
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