Carlos Monteiro, 52 anos. É natural de Leiria, mas trabalha para o mundo. Ou melhor, já trabalhou mais. Ele conhece e domina uma arte que poucos se arriscam a aprender: é calceteiro de calçada portuguesa. Uma profissão em vias de extinção, que tem vários exemplos de arte espalhada pelo mundo e outrora bastante respeitada e requisitada. “Não me recordo porque motivo, apenas sei que não queria ir para a escola. Devia ter uns 12 anos quando decidi que era essa a profissão que queria. Comecei por trabalhar de graça e apenas dois anos depois é que ganhei o primeiro ordenado, foram 20 escudos”. Quis perceber qual tinha sido o trabalho que mais o tinha preenchido, enquanto profissional. “Olhe, são todos. Gostei de todos. Mas o mais especial, talvez o maior, foi em Rennes (França), uma rosa-dos-ventos com 850 metros de diâmetro. Demorámos quase três meses a conclui-la”. Confessou que é um trabalho muito duro. “Faça sol ou faça chuva estamos a trabalhar. Os joelhos e a coluna sofrem muito. Houve uma altura que tive de estar parado quase dois anos com um problema na coluna. Mas irei continuar a exercer até que a saúde o permita”. O problema, agora, é haver menos trabalho. E o que aparece, é menos bem pago. “Hoje em dia, infelizmente, as pessoas preferem quantidade ao invés da qualidade. Não têm noção do trabalhoso que é. Partir pedra não é para qualquer um. Os calceteiros ‘normais’ não sabem fazer desenhos com a pedra na calçada”. Terminamos a conversa com o senhor Carlos a dizer: “O que me deixa triste e magoado é que é uma profissão em vias de extinção. A rapaziada nova não quer saber. Mas eu adoro! É a melhor profissão do mundo!”.

Leiria, 28 Janeiro 2016
Rui Miguel Pedrosa