Brigitte Roth, 52 anos - Encontrei a Brigitte em Saint-Denis, local onde foi abatido o responsável pelos atentados ocorridos a 13 de novembro de 2015.
Natural de Cabo Verde, tem um filho com 24 anos mas que não o vê nem sabe nada dele desde que este tinha 6 anos, altura em que emigrou para a Suíça. Esteve lá a viver 8 anos e durante esse tempo esteve casada. Ao fim de 5 anos de casamento o marido exigiu que esta se prostituísse para que este lhe desse a oportunidade de se legalizar como cidadã suíça. O casamento acabou, entretanto.
Com 33 anos, e ainda a viver na Suíça, começou a consumir drogas leves como cannabis.
Veio, entretanto, para Paris, há 12 anos, com o objectivo de trabalhar na área da costura, era o seu sonho. Em Paris chegou a estudar, mas nunca trabalhou na área e vive há 3 anos na rua, onde a encontrei, a ver uma montra de uma loja. A mãe da Brigitte, que vive a poucos minutos do local onde a filha dorme, expulsou-a de casa porque a filha, na altura, não reconheceu que necessitava de ajuda para se afastar das drogas, que nesta altura já eram das mais pesadas, como cocaína e heroína. Perguntei-lhe se alguma vez roubou para arranjar dinheiro para comprar droga e responde-me com todas as certezas do mundo que “nunca roubei nada a ninguém, nem para comer”.
Nunca mais falou com a mãe desde que esta a expulsou de casa, apesar das várias tentativas.
Cá em Paris apaixonou-se por um homem. Um homem com um alto cargo na embaixada de França. Namorar com este homem fê-la deixar as drogas. Disse que nunca foi tão feliz com alguém, mas “ele deixou-me e tenho muitas saudades, tinha tudo o que queria e era feliz. Ele era muito simpático e tratava-me muito bem, era um homem gentil” disse-me a chorar. No dia em que iriam viver para os Estados Unidos o homem revela que este tempo todo namorou simultaneamente com a prima da Brigitte. “Esta foi a minha maior desilusão de vida. Isto desencorajou-me de viver, não resisti, caiu o meu pilar e voltei às drogas e para ganhar dinheiro tenho de me prostituir. Eu durmo num parque de estacionamento e é nas traseiras deste parque que eu tenho os meus clientes.”
“Eu procuro ajuda, juro que procuro, mas as pessoas têm nojo por eu ser preta. Digo às pessoas que tenho fome e elas fogem. Não compreendo o porquê de ninguém me ajudar a sair das drogas, ninguém consegue sair disto sozinho”.
Muita coisa ficou por dizer no texto a cima, foram mais de 30 minutos de conversa e a conversa acabou quando nos interrompe um homem “pode ser agora? Lá atrás”.

Paris, 30 de janeiro de 2016.
João Porfírio