André L. 32 anos. Conheci o André no centro de Rabo de Peixe. Pescador de longa data, trabalha com o pai e " não é fácil, mas sempre que podemos vamos para o mar, eu gosto bastante só que já apanhamos uns sustos”. Apontado lá para fora para os baixios e rochas, conta-me que “há coisa de 3 anos, tive quase a ir para as rochas, parti o veio do barco, o mar e o vento tavam-me levando para as rochas... mas por sorte tinha umas pedras dentro do barco e usei-as como âncora. Foi a minha sorte. Depois o meu padrinho, que também é pescador, foi-me ajudar e correu tudo bem”. Conta-me também que, para além da força do mar, já apanhou outro tipo de sustos: “eh amigo, mas isso não são apenas coisas boas... eu sou toxicodependente. Sabes como é, pessoas ruins puxam-nos para a desgraça e os macaquinhos cá dentro da cabeça começam logo a martelar. Mas com muita ajuda e força de Deus, eu nunca mais toquei em cocaína e heroína, e apenas tomo um 'cantinho' de manhã e à noite de Subotex. O meu veneno era branca, mas um dia apanhei um susto tão grande... os doutores disseram que foi um principio de overdose. Tinha o corpo todo paralisado, eu via tudo mas não me conseguia mexer, tive quase, quase… a partir daí quis me tratar." Tem dois filhos que ficaram a viver consigo depois de se divorciar, e vivem todos na casa dos seus pais, onde estão a "começar um caminho novo". A relação com o seu pai é difícil por causa do passado: “eu sei que meu pai não gosta do que fiz, mas está feito e eu sei que ele é ruim para mim por causa disso. Mas neste ano novo, eu vou-lhe mostrar que consigo ser o pescador que ele quer que eu seja, vou-lhe ganhar o respeito e ele vai ver como sou bom na pesca. Tenho de deixar essa merda da mão de vez e vou ajudar muito mais o meu pai.” Obrigado André, boa sorte com a pesca... e com a vida.
Rabo de Peixe, 3 de Janeiro de 2016
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