Sérgio C. 19 anos. Conheci o Sérgio de manhã bem cedo, quando ia trabalhar. Quando lhe expliquei o projecto, prontificou-se logo a participar, com apenas um problema: “não sou nada fotogénica”. Começamos por falar sobre a vida dela, admite sem problemas que se prostitui, porque “ninguém me dá trabalho, eu tenho de ganhar dinheiro... mas atenção senhor, eu tenho o homem da minha vida, mas nesta terra é difícil uma pessoa ser quem realmente é”, diz-me com um tom de tristeza na voz. Perguntei-lhe como preferia que me referisse a si, ao que me respondeu: “eu apenas não sou mulher fisicamente, porque na minha cabeça sinto-me 100% mulher, até o meu perfume é perfume de 'gata'”, diz-me soltando uma gargalhada. "É muito caro tentar uma operação de mudança de sexo”, conta antes que eu tenha sequer tempo de perguntar. A família aceita-a bem porque “foram eles que me trouxeram ao mundo, têm de aceitar quem eu sou”. Ainda lhe custa ouvir conversas e sentir os olhares de quem a não percebe, “mas eu ignoro, eu sei quem sou, eu sei o que sou, sou uma mulher, infelizmente, num corpo de homem”. Acabamos com ela a agradecer-me o tempo em que estivemos à conversa, o que me deixou um pouco perplexo e feliz. Boa sorte para ti, Sérgio.
Ribeira Grande, 10 de Dezembro de 2015.
Rui Soares
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