Hugo H., 40 anos, de Lisboa. Aos 16 anos, começou a consumir drogas "por causa de problemas familiares" que o obrigaram a deixar a deixar a escola. "Com muita pena minha", diz. Recorda um dos anos dramáticos de consumo, 2008: "não imaginas, metia tudo o que possas imaginar". Lembra-se de ter ido ter com amigos a Santarém, para ir a uma festa, da qual apenas se recorda "de ter entrado". Não se lembra de mais nada. Veio a saber, mais tarde, através de um relatório da CP, que tinha ido urinar e que atravessou a linha férrea, entre carruagens... chegou o comboio, ficou preso e caiu cerca de 3 ou 4 kms depois. Ficou sem a perna. "Estive em coma e lembro-me bem de acordar. Quando vi como estava, fiquei doido e queria sair dali à força", conta, para adiantar logo: "Fiquei afectado psicologicamente". Foi neste momento que optei por não falar mais no assunto; o Hugo pareceu-me verdadeiramente abalado ao recordar essa época da sua vida. Hoje em dia, não consome nada. "O que me faz ter força para levantar todos os dias é o facto de ainda conseguir levantar-me. Apenas tenho medo da altura que a outra perna não aguente mais e que fique acamado", explica. Com um sorriso largo, desejou-me "bom natal" e boa sorte para o nosso projecto. E se alguma vez houver um livro, que nos lembremos dele.
Leiria, 10 Dezembro 2015.
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