Ricardo V. 32 anos. Vi o Ricardo hoje enquanto almoçava. Este estava a pescar com um companheiro e, na hora em que o vi, esteve a muito pouco de levar com uma onda em cima, o que o fez rir às gargalhadas. Logo aí pensei em ir falar com ele. Falou-me um pouco da sua profissão: “eu sou pedreiro, mas o patrão é que manda e ele disse que hoje não havia trabalho devido a chuva, e eu aproveito para vir pescar, sempre dá para comer um belo peixe do nosso mar”. Durante a conversa, eu ia fugindo das ondas a rebentar à minha volta, e o Ricardo ria-se de mim a dizer “oh retratista não te preocupes que não chegam cá cima”. Foi provavelmente a conversa mais curta até hoje, porque não quis incomodar; “o peixe está picando", dizia ele todo satisfeito. Falamos um pouco sobre a escola e a vida; “tive sorte de entrar num programa do governo porque isto está uma desgraça na construção, mas agora a vida está a correr bem. Eu tenho o 6º ano, já suficiente para mim”. Com dois filhos, o que mais gosta mesmo de fazer é pescar, porque “descansa a alma e consola estar aqui ao pé do mar”. Quando lhes perguntei pelos filhos, disse-me que estavam na escola: "eles podem ser o que quiserem, mas quero que sejam doutores”, conta-me, enquanto eu fujo de mais um onda. Desejei-lhe uma boa pescaria e não o incomodei mais. Espero que apanhes muitos sargos, Ricardo.


Ribeira Grande. 16 de Dezembro de 2015.
Rui Soares