Jaime G. 63 anos. Conheci o Jaime nesta manhã chuvosa de Natal, cá em Ponta Delgada. Com um sotaque brasileiro, começou por me dizer que tem "50 e treze anos”, com uma gargalhada única. Nasceu aqui na Povoação, "mas papai e mamãe emigraram em 1955 e o bebê teve de ir”, conta-me sempre a sorrir. “Fui professor no Brasil, dei aulas na Polícia, e não se compara, as pessoas no Brasil são mais amáveis, mas tem muita merda também... a minha companheira era da Policia Civil do Rio de Janeiro e foi assassinada mais a minha filha numa emboscada em Tijuca…” conta, com a voz trémula. “Em 1978, eu não tinha mais ninguém lá e voltei...”. Cá, fez de tudo um pouco; sempre foi professor, mas pediu um uma licença de longa duração: “agora vou vivendo, não gasto muito dinheiro, não preciso de muito dinheiro, apenas para uma cervejinha de vez em quando”. Inevitavelmente falámos desta quadra: “Natal não é isto de ofertas aqui e ali, não são estas compras todas. Natal é partilha, é conversa, é isto que estamos a fazer os dois aqui, a conhecermos um ao outro, é dar um abraço, um bom dia”. Continuou: “eu sou espírita, sinto o Natal de forma diferente, no Brasil esta corrente é muito forte, cá não, mas sabes, ninguém está mesmo sozinho, agora estás aqui comigo, não estamos os dois sozinhos”. Despedimo-nos com um forte abraço e ele diz-me: “Obrigado Rui, foste um presente para mim este Natal”. Engoli em seco, dei-lhe mais um abraço e cada um seguiu a sua vida.
Ponta Delgada, 25 de Dezembro de 2015.
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