“Elena”, 34 anos, Roménia. Foi ali, na berma da estrada, que teve lugar uma das mais difíceis conversas, desde que começou o ‘Um Estranho por Dia’. Na viagem de regresso a Leiria, decidi parar e abordar a ‘Elena’. Expliquei-lhe o projeto e acedeu participar. ‘Elena’ não é o seu nome verdadeiro, mas o que escolheu para ser tratada durante a entrevista. Não consegui evitar a mais óbvia das perguntas: “Porquê esta vida, ‘Elena’?”. Respondeu que o fazia por causa dos filhos, que vivem com o pai, na Roménia. “Tenho 3 filhos e quero recuperá-los. Depois do divórcio, o meu marido tirou-mos. Então, quero juntar dinheiro para regressar, comprar uma casa e provar que consigo ficar com eles”, explicou. Contou-me que está em Portugal há 5 anos. “Comecei por fazer ‘strip’, mas ganhava pouco e ainda tinha de dar comissão”. Decidiu sair e optou por uma outra coisa, de forma a ganhar mais dinheiro, para poder juntar e ainda enviar uma parte para os filhos. Acabou ali, na beira daquela estrada. Falou-me dos perigos que corre todos os dias. “Ainda no outro dia, passaram aqui 4 ou 5 pessoas e assaltaram-nos”, contou. Enquanto esperam pela chegada dos clientes, ‘Elena’ e as outras mulheres que ali estão, conversam umas com as outras, ao telemóvel. “Assim, não nos sentimos sozinhas e sempre podemos avisar as outras, que chamam as autoridades, caso nos aconteça algo de mal”. Mas acaba por confessar que, “infelizmente, quando temos precisado eles nunca aparecem”. Foi sem grande surpresa mas com natural choque que a ouvi dizer que “esta vida não é fácil, acha que quero estar aqui?” Mas, apesar da vida que leva, mantém a esperança num futuro diferente. “Apenas quero juntar o restante que preciso, quero ir-me embora daqui, estar com os meus filhos... e esquecer esta vida”.
23 Dezembro 2015.
Rui Miguel Pedrosa
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