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Aliu Baió, 28 anos

"Vivi com o meu pai numa cave que não tinha janelas e tinha apenas um quarto onde eu dormia num colchão no chão."


Nascido na Guiné Bissau, país onde viveu até aos 9 anos. Das memórias que me conta uma sobressai: a guerra!"Ansumane Mané e o Nino Vieira disputavam o poder, e na aldeia de Caur em Kinara onde vivia havia sempre tropas em movimentação. Um dia estava com os meus 2 irmãos a brincar na estrada, olhamos e vinha um camião com tropas, com medo fugimos e escondemos-nos numa horta de caju, e infelizmente magoei-me no olho direito que já naquela altura era o olho que via bem. Na aldeia foram fazendo mesinhas mas o meu olho só foi piorando. Desesperado, o meu pai fez um apelo pela rádio nacional para eu poder ser levado para a cidade e ser tratado.
Em Bissau fui operado umas 4 vezes mas os médicos disseram-me que era melhor ir para o estrangeiro.
Em 2005, vim para Portugal com o meu pai e desde essa altura que não vejo a minha mãe e era o meu grande sonho voltar a ver a minha mãe e digo ver pois eu vejo à minha maneira.
Vivi com o meu pai numa cave que não tinha janelas e tinha apenas um quarto onde eu dormia num colchão no chão.
Fui operado no hospital da Estefânia, mas infelizmente deixei mesmo de ver a 100%.
Aos 11 anos comecei a frequentar o centro Helen Keller, onde fui muito bem integrado e aprendi a ler braille, a comer com garfo e faca pois só sabia comer com colher ou à mão.
Aos 14 anos decidi sair de casa do meu pai e fui para uma instituição, foi um choque porque havia lá outras crianças com deficiências cognitivas e a adaptação foi muito difícil.
Tive de recomeçar tudo outra vez e fui sempre o mais velho nas turmas onde estive. Estudei e entrei em psicologia na U. Autónoma onde fiz só 2 anos porque sempre tive dificuldades financeiras e isso também nunca ajudou a que tivesse estabilidade emocional mas gostava muito de acabar o curso.
As vezes sinto uma grande angústia pois não tenho a minha casa e talvez nunca o consiga, se uma pessoa normal que vê por vezes não consegue como é que eu vou conseguir e há dias em que literalmente eu mergulho no escuro. Dou aulas de bateria e tenho as minhas bandas e gostava de poder tocar com músicos como a Aurea, Carolina Deslandes, Bárbara Tinoco, Rui Veloso".

Lisboa, 16/1/2023
Miguel A. Lopes









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