Manuel Sousa, 61 anos. “Vou-lhe partir a máquina toda”. Foi assim que, com um sorriso na cara, aceitou falar comigo. Manuel é natural do Algarve, mas há 27 anos aceitou o desafio: juntamente com a esposa, mudou-se para Leiria, para trabalhar. “Lá, era pescador. Mas a pesca começou a falhar e, aqui, ofereceram-me melhores condições e aceitámos. Até que, certo dia, me falaram que podia ganhar mais se fosse trabalhar na pedra para calçada portuguesa. Durante cerca de 6 meses, sem ganhar rigorosamente nada, conciliando com o trabalho semanal, decidi ir aprender a trabalhar na pedra, aos fins-de-semana”, conta. Revela que acabou por ficar a trabalhar na empresa onde começou a aprendizagem e que, na altura, havia bastante trabalho. Agora, já não é assim mas, confessa, espera que seja uma área que venha a melhorar nos próximos anos. “Nem imagina, é um trabalho mesmo duro. Há 4 anos que tive de ser operado a tendinites em ambas as mãos. Desde aí que não trabalho a 100% e, ainda bem que o patrão entendeu: acabei por ir fazendo algum trabalho menos esforçado”, revela Manuel. E, nesse momento, como que querendo reavivar o passado, volta a falar sobre o tempo em que era pescador. “Foi uma mudança bastante difícil. São ofícios bem diferentes. Na vida do mar, cheguei a fazer viagens de 20 e tal dias. Normalmente, íamos de noite e quando chegava a hora de almoço, tinha o tempo livre para estar com a família e filhas. Acho que, hoje em dia, as pessoas só pensam em dinheiro. É certo que é importante. Mas, agora quando começo a refletir no meu passado - cheguei a ter dois trabalhos, no alcance de uma vida melhor -, chego à conclusão que devia ter estado mais presente para a minha família. Se pudesse mudar algo, seria isso garantidamente. Naquela altura só via trabalho. Só me arrependo disso. Acho que, de modo geral, as pessoas esquecem-se da família e deixam-na para segundo plano”, confessa em modo de reflexão para rematar a conversa.
Leiria, 27 Agosto 2016
Rui Miguel Pedrosa
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