João Tavares, 57 anos. “Sou coveiro, neste momento sou coveiro” disse ele muito assertivamente e orgulhoso do seu emprego, quando começámos a nossa conversa. Acha que as pessoas olham para o seu local de trabalho com algum receio, mas para ele é o contrário: “Trato aquele trabalho como se fosse um jardineiro, um jardim que, quando entro lá dentro apenas vejo flores, redomas, coisas bonitas, etc., para mim o cemitério é um jardim, faço isto há 3 anos, lido com muita tristeza das pessoas, mas tentamos fazer sempre o melhor”. “Nasci e vivi toda a minha vida aqui na Lagoa e tive uma infância normal, sempre pensei em ser pedreiro e fui durante muitos anos, mas devido ao destino apareceu esta vaga. Muitas pessoas não queriam ir para o lugar aonde estou e então, dentro dos Serviços da Câmara Municipal da Lagoa, ofereci-me para ir. Acho que o lugar assusta muita gente, mas acho que estão esquecidos de que, quem faz mal são os vivos e não os mortos”. Sobre o seu futuro, disse-me que: “Espero estar reformado daqui a uns anos, já concretizei o meu maior sonho, que foi ter a minha própria casa, larguei a família e fui para Angola trabalhar e consegui comprar a casa e não devo um escudo ao banco, este foi o meu maior sonho e ainda bem que aconteceu, foi difícil afastar-me da família, mas compensou”. Perguntei-lhe sobre o seu chapéu: “Esse chapéu, foi uma filha minha que me ofereceu durante umas festas aqui da freguesia, e nos dias de festa uso sempre, acho que criei a minha tradição” disse ele a rir, continuando a dizer: “as pessoas deviam pensar sempre em coisas boas, todos nós temos de desejar tudo de bom uns para os outros, senão isto fica um inferno de se viver,” rematou ele e la seguiu para a festa. Obrigado Sr. João.
Lagoa, 28 de Agosto de 2016
Rui Soares
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