Zé Maria Batista, 79 anos. Numa terra conhecida pela sopa de Almeirim, não se surpreendam se entrar alguém que grite: “Ninguém quer cornos? Ah, já estão todos servidos”, seguido de um sorriso simpático. “Oh amigo, nunca ninguém se chateou comigo porque depois percebem que estou a brincar. Desde que haja respeito, está tudo bem”. O senhor Zé já é conhecido nos restaurantes da zona da Praça de Touros, em Almeirim, e anda sempre acompanhado de uma mão cheia de cornos em formato de porta chaves. Na outra mão, costuma transportar uma parelha para se pendurar na parede. E numa conversa rápida, conta que por ter trabalhado num matadoro acabou por estar habituado a este tipo de material. Já faz os porta chaves para vender nos restaurantes nas horas das refeições, há cerca de 40 anos. Aprendeu sozinho e reconhece que foi uma forma honesta de se fazer à vida. “Precisava de me manter ocupado. Sabe, tive uma filha que faleceu e fiquei com quatro netinhos para cuidar, que na altura eram novos. Eu tinha de fazer algo por eles e ao mesmo tempo tinha de me distrair e entreter”, revela com alguma emoção. Afirmando que irá continuar a fazer isto até que tenha saúde, sorri e diz que já teve melhores dias, em que vendia mais artigos. Entretanto, em jeito de conclusão, e mais uma vez em tom de brincadeira, diz: “Isto, hoje em dia, já deve ser só cabrões, e deve ser por isso que quase ninguém compra”.
Almeirim, 1 Julho 2016
Rui Miguel Pedrosa
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