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Nuno Costa, 47 anos

Nuno Costa, 47 anos - O Nuno é meu vizinho, e à parte dos circunstanciais cumprimentos de bom dia, ou neste caso boa noite, para mim era um completo estranho. Perguntei-lhe se o podia fotografar e se estava a chegar tarde do trabalho "Claro que me pode fotografar! Venho a esta hora para ver se ainda apanho a família acordada, mas ultimamente é raro chegar a esta hora, é sempre mais tarde. Trabalho na área da regulação de energia e agora estou fase de muito trabalho e é raro sair cedo. Com saudade falou-me da sua infância em Tomar: "Nasci numa família de muitas histórias, fui criado numa fábrica de papel, na qual o meu bisavô tinha sociedade. O meu bisavô que curiosamente faleceu muito novo com apenas 40 anos devido à maneira como se produzia o papel naquela época, em que roupas velhas eram desintegradas e o papel era feito de farrapo que produzia um pó tóxico para os pulmões. Quando era miúdo passava lá os dias a brincar, roubava umas tábuas e fazia umas cabanas e havia lá mais crianças, filhos de colaboradores que também lá viviam. A minha família teve uma empregada a “full time” que viveu connosco 55 anos e que cuidava da casa e sempre que tocava a sirene da fábrica para a saída, ela desafiava-me para ir para as escadas junto ao portão da fábrica ver aquele frenesim de dezenas de mulheres, que trabalhavam na escolha e embalagem manual do papel, todas de uniforme fabril a sair da fábrica, era mesmo impressionante a vida nessa fábrica. Essa senhora ainda é viva, a Almerinda, tem hoje 86 anos e quando foi viver para a terra dela, nós demos-lhe uma cadela, a Kika, que era nossa e assim continua a ter um elo de ligação connosco. Quer a minha mãe quer o meu pai já faleceram. A minha mãe recentemente com 79 anos e o meu pai infelizmente nem sequer conseguiu gozar da reforma, pois reformou-se em dezembro de 1996 e em abril de 1997 sentiu-se mal e faleceu com 69 anos. Nessa altura já a indústria do papel estava no declínio em Portugal, com a globalização e a mão-de-obra barata de outros países não havia maneira de combater esses preços e as fábricas de papel acabaram por fechar ou ser vendidas. Eu ainda tentei trabalhar na área do fabrico do papel, que tanto gosto, cheguei mesmo a colaborar com o então Presidente do Conselho de administração em duas das associadas, mas não deu e já há alguns anos que estou na área da energia. A Tomar só vou lá com a família de fim de semana ou de férias e rever muitos e bons amigos que lá tenho. Bem vou subir para ver se ainda apanho a família acordada".

Benfica, 11 de maio de 2016
Miguel A. Lopes



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