Sérgio Yurov, 52 anos. Este terá sido o diálogo mais complicado que mantive com um 'estranho' até hoje. Mas nenhum de nós desistiu e ainda nos rimos a valer para tentar manter a conversa. A bicicleta de Sérgio chamou-me a atenção. Ele é natural da Sibéria, e, através de gestos, fez questão que eu percebesse que o seu país é bastante frio. Ao mesmo tempo, levantou os braços para o céu azul e solarengo para que eu entendesse que está a adorar Portugal, por ter um clima fantástico. Como veio cá parar, é simples: diz-se uma espécie de ciclo-aventureiro, que demonstra apontando para o conta quilómetros da bicicleta, com uns simpáticos 41.356 quilómetros. Quis saber como faz a gestão das viagens e explica-me que trabalha durante algum tempo até reunir algum dinheiro, depois pega na bicicleta e atira-se à estrada. Como apenas pretende juntar o necessário para poder partir novamente em aventura, admite que tem recusado alguns contratos de trabalho e que muitas vezes tem sido mal compreendido por isso, mas não parece importar-se muito. Quando lhe pergunto se é casado ou solteiro, surge de imediato uma resposta clara, logo na primeira tentativa: “Não, estou casado comigo. Vivo para isto”. Ainda tentei arrancar-lhe algumas curiosidades dos países por onde já passou, mas em vão. Se este diálogo estava a revelar-se tão difícil, como consegue comunicar com as pessoas das regiões que percorre? Sérgio solta de novo uma gargalhada e responde gesticulando: “assim!”. Perante um 'estranho' com um estilo de vida tão interessante, soube-me a pouco a 'conversa'. Mas fiquei com a certeza de que aquela velha máxima "Quem tem boca vai a Roma", neste caso aplicado ao gesto e à imaginação, faz todo o sentido.
Leiria, 1 Abril 2016
Rui Miguel Pedrosa
0 Comentários