Yaarop Kawas - 21 anos
Nasceu na Síria e veio para Hamburgo completamente sozinho. Em Aleppo, a sua cidade, deixou a sua família directa. “Os meus pais não conseguiram vir comigo porque, para além de a viagem ser bastante cara, eles já são velhos e não iriam aguentar esta viagem tão dura.” Yaarop, como a maior parte dos refugiados sírios, atravessou durante 25 dias vários países, viajando de barco, em autocarros, escondidos dentro de camiões ou de táxi (uma viagem de 20 minutos pode custar 500 euros por pessoa).
A viagem que Yaarop fez até Hamburgo teve um custo total de 11.150€… Onde 5.000€ foram para pagar a traficantes turcos para que estes o metessem num barco com mais 50 pessoas. “O barco onde eu vim era super pequeno e vínhamos 54 pessoas, de crianças a mulheres grávidas… Tudo”.
Este rapaz de 21 anos tem um sonho invulgar: ser repórter de guerra. Em Aleppo, na Síria, filmava a guerra e partilhava os vídeos no YouTube para mostrar ao mundo a realidade das ruas que o viram nascer. Uma actividade arriscada, que não lhe custou a vida mas 3 tiros na perna e no abdómen (que fez questão de me mostrar).
Mostrou-me no seu telemóvel alguns desses vídeos, onde se vê o Daesh (o auto-proclamado Estado Islâmico) a invadir a sua cidade.
Quando lhe perguntei qual era o seu sonho, responde-me que é tirar os seus pais da Síria, mas curiosamente também quer voltar para a Síria: “quero mostrar ao mundo através dos meus vídeos o que se passa naquele país.” Vamo-nos manter em contacto, Yaarop. A maior sorte do mundo.

Hamburgo, 16 de fevereiro de 2016.
João Porfírio