João dos Santos, 34 anos. Hoje de novo, foi o Estranho que se aproximou de mim, pediu-me um cigarro e aproveitei para meter conversa com ele, sem saber eu, que ia ouvir um dos relatos mais difíceis que tive de ouvir em quase todo o projecto. O João, natural da Ribeira Quente mudou-se para Ponta Delgada, á procura de uma vida melhor: “isto aqui é maior e pode haver mais emprego e um gajo pode-se fazer mais a vida”. Continuamos a conversar com ele a relatar-me um pouco da sua vida: “Estamos na crise amigo, perdi o meu trabalho, eu era pescador, agora um gajo anda pedindo uma esmolinha por aí, de vez em quando há gente que dá um dinheiro para comer, só que até isso está difícil, não como há 4 dias vê-la tu, as coisas estão mesmo difíceis, a minha mãe morreu com 48 anos, o meu pai morreu o ano passado, neste momento vivo numa casa abandonada, como a casa dos meus pais era de renda, os herdeiros venderam-na quando os meus pais morreram e fui para a rua, estive a viver numa tenda durante 4 anos” contou-me ele entre uma mistura de choro e soluços, para continuar a dizer: “já pedi várias ajudas ao governo mas nunca consegui nada, e é assim que ando o dia-a-dia, tento procurar trabalho, todos os dias vou a doca, porque é isso que eu sei fazer, ser pescador, trabalhei no mar durante 15 anos, mas existem muitos barcos parados. Quando lhe perguntei sobre o que pensava e o que esperava para a sua vida, rapidamente respondeu-me: “Eu nem consigo olhar em frente, nem para o futuro, cada vez vejo a minha vida a andar para trás, não se consegue andar para a frente, gostava muito de tentar emigrar para uma terra com mais emprego, mas nem isso consigo, nem consigo sonhar e as vezes tenho de fazer coisas que não gosto para sobreviver, como roubar, tenho de roubar de vez em quando, entro no mercado e tiro uma peça de bacalhau ou uma garrafa de bebida para vender cá fora e é assim que vou andando, devagarinho a espera..” Espero que a tua sorte mude João e obrigado pela sinceridade.
Ponta Delgada 13 de Julho de 2016
Rui Soares
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