Ruben C., 19 anos. Encontrei o Ruben num café, quando estava a chover demasiado para andar na rua. Estava sentado ao meu lado, olhando para mim e para a minha câmera com alguma desconfiança, até que meti conversa e expliquei-lhe o projecto. Aceitou desde logo fazer parte: “claro que sim, senhor, vamos conversar um pouco”. Disse-lhe para me chamar pelo meu nome mas respondeu-me “o senhor parece-me mais velho do que eu, foi assim que fui ensinado”. Lá passamos a parte dos cumprimentos e tratámo-nos por tu. Conta-me que é pedreiro: “Tive na escola até ao 9º ano mas depois tive de ajudar a família em casa, tive de ir trabalhar. Eu queria estudar, tirar o 12º e tirar o meu curso, mas tive de ajudar a minha mãe e o meu pai. São coisas da vida, mas graças a Deus estou tranquilo com a minha decisão”. Sendo natural de Rabo de Peixe, perguntei-lhe se nunca tinha pensado em ser pescador: “não, não sou pescador, eu sou daqui de cima, o meu trabalho é ser pedreiro. Aqui em cima nesta zona (Rosário) as pessoas trabalham nas terras, lavradores e agricultores. Lá em baixo mais perto do mar é que as pessoas se viram mais ao mar. Nós damo-nos bem com todos mas o pessoal aqui em cima é mais para trabalhar a terra”. Disse-me que gostava de abrir uma empresa quando for mais velho e tivesse "junto mais uns dinheiros. Eu gosto disso, sempre foi o meu sonho, na escola eu dizia sempre que ia ser engenheiro para trabalhar nas obras, sempre foi o meu sonho. Mas não dá 'man', um gajo tem de ajudar a família... mas vou conseguir abrir a minha empresa para trabalhar por minha conta. Tenho uma namorada, um dia vamos casar, as coisas vão correr bem, mais para a frente quando tiver uns trocos bons, um gajo casa", diz-me ele com ar de gingão bem disposto. Boa sorte para a tua futura empresa, Ruben.

Rabo de Peixe, 2 de Janeiro de 2016
Rui Soares