Fernando Batista, 53 anos. Falei-lhe do projecto e rapidamente me diz: “oh amigo, conto-lhe tudo o que você quiser. Digo-lhe a minha vida toda”. Começou por dizer que, aos 13 anos, saiu de casa para fugir ao ambiente de violência. “Fui para o Algarve, nem sei bem como. Na altura houve um casal que me ajudou a procurar trabalho e dar algum rumo à vida. Mas, infelizmente, não conseguiram”. “E aí começa a parte da minha vida que não tenho vergonha de dizer, porque tive de procurar alguma forma de arranjar dinheiro para comer. Comecei a roubar. Apenas queria ganhar algum e comprar comida”. Foi nessa altura, com 16 anos, que conheceu pessoas que diz que não devia ter conhecido, que o levaram a começar a consumir heroína e cocaína. Fernando esteve preso 3 vezes. “Não tinha dinheiro e acabava por cair sempre na tentação de roubar, fosse para vestir ou para comer”. “Mas a última vez que estive preso foi mais grave. Tentativa de homicídio. Tentei matar, com uma faca, um ‘colega’ que me estava a tentar assaltar. Consegue imaginar o que senti naquela altura? Sem dinheiro, tinha poucas coisas e um colega ainda me queria assaltar. Consegue compreender?”. Naquela altura fiz um silêncio, fiquei sem resposta…
Mais tarde, o pai faleceu e os irmãos não ajudaram nada na altura da herança. “Eles foram lá a casa e roubaram a minha mãe. Ficaram com tudo. Então, eu decidi entregar á minha mãe toda a minha parte da herança”. Vê algumas vezes os irmãos na rua, mas nunca mais se falaram. Esteve diversas vezes em centros de recuperação, mas acabava por voltar sempre a consumir. “Não imagina, seja lá ou na prisão a droga vinha parar-me às mãos”. Mas naquela altura sorri e, como se estivesse a relembrar, diz: “apenas larguei a droga quando a minha filhota nasceu. Eu não queria que ela seguisse o mesmo rumo que eu. Naquela altura, eu não era exemplo para ninguém”. Junto com a mãe, mais tarde, decidiram inscrever a filha numa escola, em Pombal, para ela não sofrer represálias por causa do pai já ter sido ladrão e drogado. E conta: “A minha filha já tem 17 anos e felizmente correu tudo bem. É feliz”. Actualmente, anda sempre na companhia do Floyd (o seu cão). “Ando sempre com ele. É a minha companhia. Trato dele como se fosse meu filho”. Confessa que arruma carros durante 1 ou 2 horas por dia: “Não quero estar aqui. É claro que não gosto. Apenas quero dinheiro necessário para comprar comida”.
Leiria, 16 Janeiro 2016
Rui Miguel Pedrosa
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