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Carlos (nome artístico Tatiana), 31 anos

Carlos (nome artístico Tatiana), 31 anos. Quando o abordei e expliquei o projecto prontificou-se logo a falar abertamente. Até podia fotografar enquanto estava ‘montado’ (entenda-se, vestido como trabalha). A única condição é que não podia mostrar a cara porque a família não precisa saber o que faz. Saiu de casa aos 14 anos para trabalhar no Algarve, onde arranjou emprego numa residencial, e acabou envolvido no mundo da prostituição. Mais tarde, foi para Lisboa e reencontrou um amigo. Juntos, começaram a consumir droga. “Mas o dinheiro faltava" e acabaram os dois no Parque Eduardo Sétimo. "Naquela altura, eu nem sabia bem ao que ia. Mas recordo-me bem que o meu primeiro cliente foi um famoso, que ainda hoje aparece na TV”. Na altura do escândalo da Casa Pia, frequentava os mesmos locais, tantas vezes descritos nas inúmeras notícias sobre o mediático caso de pedofilia. “Recordo-me bem de todos aqueles miúdos e aquelas pessoas. Sinceramente, acho que a maioria dos envolvidos nem sabia a idade dos menores. Sabiam apenas que iam à procura de ‘boys’ a prostituírem-se. O problema é que não quiseram assumir”, conta, sem pestanejar. Mais tarde, teve uma casa de ‘meninas’ onde diz ter ganho muito dinheiro. 
Está em Leiria há 3 anos. Já não ganhava dinheiro, nem para a renda, pelo que começou a trabalhar como travesti. “Foi uma forma que arranjei para enganar mais uns poucos clientes”, diz com uma pontinha de ironia. Explicou-me que um travesti é um fetiche do homem. Quando lhe perguntei se era homosexual ou bisexual, responde: “Não tenho a certeza. Sou capaz de estar com ambos, apesar do homem dar mais prazer. Mas não me imagino a fazer vida com um homem”. 
Confessa que nos dias em que trabalha, apenas janta. Não consegue comer. Pergunto-lhe o motivo. “Durante os serviços, dão-me vómitos, com algumas coisas macabras que os clientes procuram. Dificilmente abro os olhos. Na realidade, faz me confusão um homem estar com um travesti. Mas respeito todos eles. Eles são o meu ganha-pão”. 
Por fim, ‘Tatiana’ conta que tem a vida orientada com os clientes regulares e revela que em breve irá sair da cidade, mas não deixará o 'negócio': "Acho que estarei sempre ligado à prostituição. Nem que seja a alugar quartos. É o meu meio de sobrevivência. Foi como aprendi a ganhar dinheiro”.

Leiria, 18 Janeiro 2016
Rui Miguel Pedrosa



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