Arlindo Bettencourt, 50 anos. Encontrei o Sr. Arlindo montado numa bicicleta enquanto puxava o seu cavalo. “Eu ontem estive a ver vocês ali no mar, não eram vocês ali no mar?”, perguntou-me logo de início. Respondi-lhe que sim, e expliquei-lhe o que tinha estado a fazer estes dias na sua ilha. Começou-me por me dizer sempre viveu aqui na Graciosa, mas agora vive sozinho porque a sua mãe já faleceu. "Sou trabalhador de construção civil e lavrador, tenho ali um curralzinho com porcas. Mas a coisa não está fácil aqui para empregos, como em todas as ilhas. Ainda por cima tive um acidente de mota há uns anos e estive em coma em S. Miguel. Parti-me todo, fiquei com uma paralisia facial e a cana do nariz está torta desde aquela altura. Ia ficando paralítico de metade do corpo mas escapei!, estou à espera de ser chamado para me operarem o nariz." Conta-me que já está à espera desta cirurgia há 16 anos, porque "a vida não está fácil, um gajo não tem hipótese de pagar. Acho que vou morrer antes de ser chamado para a operação", diz-me resignado.
Sobre a sua ilha, conta-me que sente que a vida antes era melhor, com melhores condições, mais firmas e mais emprego; "agora é diferente, é mais difícil. Trabalha-se quando há emprego, e quando não há, é andar por aí com os meus animais. Eu trabalhava num lar, mas acabou o contrato e tive de sair. Estou no fundo de desemprego agora. E daqui a 10 anos não sei como isto vai estar. Vejo muita gente a querer ser politico mas não sei se vai dar certo, e eu até gostava que um mulher mandasse para ver o que ela fazia.”
Quando lhe perguntei pelo cavalo, disse-me: “é um garrano, um cavalo perigoso!, mas castrei-o para ficar mais manso porque ele não sabia quem era a sua família... e hoje vou precisar dele para puxar uma carroça.” Ao despedir-me, disse-lhe que já era a segunda pessoa de sobrenome Bettencourt que entrevistava na Graciosa, ao que me respondeu que era era um nome muito comum cá na ilha. Boa sorte, Sr. Arlindo!
Santa Cruz da Graciosa, 21 de Janeiro de 2016
Rui Soares
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