Alice Mendes, 52 anos. Nasceu no Monte Estoril, em Cascais. Começa por dizer que “correu o mundo” desde os 16 anos, que neste caso significa que esteve a morar em diferentes locais. “O que tenho mais saudades é dos Açores. Se eu pudesse escolher onde morar seria, garantidamente, nos Açores. É lindo. E as pessoas são muito hospitaleiras. Gostei muito”.
Actualmente reside em Leiria e assume-se como leiriense 'dos quatro costados'. Profissional de limpezas lamenta não estar a conseguir mais trabalho. “Apenas trabalho duas horas por dia, o que no fim do mês são pouco mais do que 200€. Não é nada fácil. É esticar o dinheiro o mais possível e só assim se vai vivendo”, conta com a mágoa estampada no rosto, por sentir que a estrutura física e a idade a impedem de conseguir mais umas horitas de labuta remunerada. “Infelizmente vivemos numa sociedade em que, com 52 anos, somos velhos para o mercado de trabalho. E, por outro lado, também sei que já não tenho a mesma mobilidade que tinha, mas não sou velha e consigo trabalhar”.
A meio da conversa, confessa que odeia quando olham para ela de forma aparentemente discriminatória. “As pessoas não lidam bem com a diferença dos outros. Muitas vezes ficam especadas a olhar. Não entendem a diferença. Se somos todos seres humanos, não devia haver discriminação. Isso deixa-me triste”.
Tento reconfortá-la, lembrando-a que o importante é sentir-nos bem tal como somos. A resposta saiu pronta: “Eu lido bem com o meu corpo. A sociedade é que discrimina. É claro que eu gostava de poder mudar. Mas, ao contrário do que se pensa, não é uma coisa simples”.
Gandara (Leiria), 20 Janeiro 2016
Rui Miguel Pedrosa
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