António Pedrosa, 78 anos. Antes de começar a 'história' de hoje, devo recordar-vos que procurar um ‘estranho’, quando já é noite, não é tarefa fácil. Procuro sempre fazê-lo num sítio público e bem iluminado. Mesmo assim, as pessoas ficam 'desconfiadas'. O senhor António não fugiu à regra. Primeiro, tentou escapar ao diálogo, mas depois acabou por perceber que não havia maldade e aceitou falar. Começou por me dizer que esteve preso. É claro que estranhei e perguntei o que tinha acontecido. "Olha, comprei pontos para o exame do 5º ano de escolaridade. Mas cumpri tudo até ao fim. Estive preso um ano. E nunca fui tratado de forma diferente, sempre tratado como prisioneiro”, conta, disfarçando a revelação com um sorriso matreiro.
António foi militar e mais tarde seguiu para a PSP, onde esteve apenas três anos. "Pedi a demissão porque não gostava daquilo. Era numa altura em que eu ainda andava a ver o que queria ser. A PSP foi um trampolim para, mais tarde, vir a trabalhar no Tribunal de Penela". Mas também por pouco tempo, porque teve que ir cumprir a pena de prisão. “Tudo o que fiz foi comprar as perguntas e as respostas que iam sair no exame do 5º ano. E olha, fui descoberto. E acabei por ter tudo anulado”.
Depois de cumprir a pena, foi morar para casa dos pais. “O meu pai sempre me apoiou e ajudou imenso a começar a trabalhar por conta própria em diversos ramos de actividade”. Essa experiência levou-o, mais tarde, a entrar no ramo imobiliário. E até aí diz não ter sido bafejado pela sorte, devido à crise que entretanto tomou conta do negócio. “Sabe, antigamente os bancos davam dinheiro a toda a gente para investir. Agora não atribuem qualquer valor a esses investimentos. É sabido que eles foram bastante responsáveis pela crise”.
Estava feita a conversa, e, já no final, o senhor António saiu-se com esta: “O pouco tempo que vivemos é para andar para a frente e lutar por uma vida melhor. Apenas me arrependo de ter hipotecado a minha vida. Mas, tudo o que fiz, fez de mim o que sou hoje. Gosto muito da minha vida”.
Leiria, 01 Fevereiro 2016
Rui Miguel Pedrosa
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