"António", 65 anos - Começo por dizer que não gosto muito de retratos onde não se veja o retratado, mas neste caso não havia volta a dar, foi um pedido do mesmo e acho que a conversa que tive com o Sr. António (nome fictício) merece ser contada. Encontrei o Sr. António a pescar em Setúbal. Chamou-me à atenção o tamanho dos anzóis e isco e o facto de não estar a pescar com cana de pesca mas sim com uma corda. Perguntei-lhe o que andava a pescar "ando a ver se apanho algum polvo ou choco. Isto afunda e vai junto ao fundo e o polvo ou choco vê ou sente o cheiro e fica agarrado ou fica espetado". Quando puxou o isco pedi para o fotografar "eh pá, só se não me fotografar a cara!" Um amigo dele que estava ao lado a pescar à cana sorriu e disse "toda a gente conhece esse maluco aqui em Setúbal, se o fotografa ele vai preso!" e o Sr. António continuou "Isto é proibido! Ando aqui clandestinamente a ver se ganho algum. Isto está mau e não há empregos e a gente tem de se safar! Mas sou respeitador, quando aparece a policia sou o primeiro a meter as mãos nos bolsos e ir embora, eles só andam a fazer o trabalho deles. Quando os vejo vou pó bar jogar à macaca." Quando estávamos a conversar sorriu e disse "Olhe está aqui um a puxar, quer sentir?" passou-me a corda e senti o que devia ser um polvo a puxar o isco "este deve estar entócado! Olhe e está mesmo, deve ser fêmea mas já não vem, elas não saem da toca são matreiras, pode puxar mas não vem atras do isco" Perguntei-lhe quanto pagavam os restaurantes pelos polvos ou chocos que apanhasse "normalmente pagam entre três euros e meio e quatro o kilo, não é muito mas dá para ir vivendo. Isto vida de pescador é tudo menos fácil amigo". Despedi-me do Sr. António e desejei-lhe sorte.
Setúbal, 21 de Fevereiro de 2016.
Miguel A. Lopes
Setúbal, 21 de Fevereiro de 2016.
Miguel A. Lopes
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