Francelina Quinzico, 59 anos. Numa ida à Nazaré, em trabalho, encontrei esta simpática senhora que imediatamente me disse que era “famosa e já tinha dado imensas entrevistas”. Apesar da fama, arrisquei a conversa. Francelina é secadora de peixe há mais de 30 anos. “Comecei a fazê-lo com a minha sogra”. Fá-lo com muito orgulho, apesar do negócio já ter tido “melhores tempos”. E a sua arte, assegura, não é fácil. “Estamos aqui, a vender peixe, até nos dias de temporal”. Conta que hoje em dia, “já não há muita gente a manter a tradição, somos cada vez menos”. Mostra-me como se escala o peixe. Com os dedos polegares estendidos, sorri e diz: “estas unhas já não sabem fazer outra coisa”. Uma das recordações que tem é a visita dos franceses, à Nazaré, nos anos 60. “Vinham de expresso. Nós não tínhamos dinheiro para nada e tivemos de aprender a falar Francês, mas apenas as palavras que lhes interessavam”. Havia uma frase que, garante, nunca esquecerá (enquanto se ria, parecia que estava mesmo a recordar aquela altura): “Monsieur, moné pro pão pour la manger que o papá morreu no bateau”. Que é como quem diz: “Senhor, dinheiro para o pão, o meu pai morreu de barco”. Continua a rir. “Ou seja, o nosso pai morria a toda a hora e sempre que nos dava jeito”.
Nazaré, 02 Janeiro 2016
Rui Miguel Pedrosa
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