Maria da Encarnação, 73 anos. Quando eu era criança e tinha de ir de autocarro para casa, esta era a senhora que eu visitava antes da correria para não perder o transporte. É que não entrava no autocarro sem antes ir buscar umas pastilhas ou uns bombons Allegro.
E hoje, percebi que ainda lá estava e fui falar com ela.
Diz que nos dias de hoje, "o negócio não corre como antigamente, mas vai dando para os gastos". Entretém-se a conversar com as amigas e é para elas que faz, actualmente, as rendas. "Gosto bastante, mantenho-me ocupada", explica. Nestes 28 anos a trabalhar no mesmo local, já apanhou "uns valentes sustos", conta, explicando que já foi, até, "perseguida para me assaltarem". Com o tempo, aprendeu a criar mecanismos de defesa. "Agora viro-lhes a 'cara da semana' e eles percebem logo e não se metem mais", assegura. Sabe que tem o apoio dos filhos. E confessa não querer pensar "no dia em que tiver de sair daqui".
"Sinto-me muito bem quando os miúdos cá vêm comprar gomas e pastilhas". E, comovida, diz que "terei muita pena do dia em que deixar isto e não conviver tanto com eles... É fixe!".

Leiria, 31 Dezembro 2015
Rui Miguel Pedrosa