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Fernanda Godinho, 61 anos

Fernanda Godinho, 61 anos. Depois de alguma desconfiança inicial, a Fernanda aceita falar comigo, mas com a condição que teria de ser rápido porque estava a trabalhar e não queria ter problemas. Nasceu em Angola e está a morar há 40 anos em Leiria. “Casei com cerca de 20 anos. Foi tudo feito a pressa. Foi uma altura complicada. Os meus pais tiveram de vir embora e, na esperança de tentar ficar por lá, acabei por casar. Mas as coisas não correram como era de esperar e tivemos também nós de fugir. Naquela altura, andávamos constantemente sob ameaças e o perigo era constante. E optamos por não arriscar ficar lá muito mais tempo”, revela. Conta que os primeiros tempos em Portugal não foram fáceis, mas que acabou por encontrar emprego, como costureira, numa fábrica. No entanto, "o ambiente fabril e a sobrecarga de horários levaram a que, mais tarde, entrasse numa depressão" e deixasse a fábrica. Ultrapassada essa fase, decidiu ir, novamente, à procura de trabalho. Candidatou-se ao cargo de varredora onde, conta, voltou a encontrar equilíbrio. “No princípio, provavelmente por causa da sociedade em que vivemos, senti um bocado de vergonha por ter este trabalho de varrer as ruas. Mas, acredite, rapidamente percebi que não tinha motivos para isso. Posso dizer que gosto de varrer e gosto imenso do que faço. Não há que ter vergonha de nada. É um trabalho honesto e, às vezes, até encontramos algum dinheiro nos lixos. Pode não ser muito, mas aparece. No início nunca sabia o que fazer com ele. Agora, guardo tudinho num mealheiro e, dessa forma, tenho algum dinheirinho extra para dar prendas aos meus netinhos”, conta com um notório sorriso orgulhoso, antes de pôr termo à conversa, porque o dever chamava por ela. “Se tivéssemos mais tempo, acredite, a minha vida dava um livro”.


Leiria, 11 Agosto 2016
Rui Miguel Pedrosa


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