Laetitia Santos, 23 anos. Enquanto vagueava nas ruas de Pombal, encontrei um amigo meu numa loja de tatuagens. Entrei para o cumprimentar e dei de caras com a minha ‘estranha’. Tímida, chegando mesmo a corar, mas com alguma ajuda, acedeu falar comigo. Além de trabalhar numa loja de roupa, a Laetitia é ‘bodypiercer’. Muito do que aprendeu até hoje foi com a ajuda de amigos que trabalham na área. Mas também tem uma parte de autodidata. “Comecei em 2008 mas ainda estou a aprender. No início, queria ter sido tatuadora mas mais tarde percebi que não me identificava. E isto não é só furar. Temos de saber onde o fazer. Por exemplo, no local onde comecei a aprender chegámos mesmo a ter um médico que nos explicou o funcionamento do corpo humano e também dos cuidados a ter. É algo importante”. Com o tempo diz não haver pedidos ou sítios estranhos para colocar os ‘piercings’. Mas se há local que tem por hábito recusar fazer é nos genitais. “Nesses locais não faço. É uma responsabilidade enorme. Nessa zona, há dois tipos de ‘piercings’. O problema não são os estéticos; são os ‘piercings’ que servem para aumentar o prazer. A responsabilidade é grande. Envolve nervos e a pessoa corre alguns riscos”, conta Laetitia. E devo dizer que tomar conhecimento da existência desse tipo de ‘piercings’ foi uma revelação para mim. Quando a questionei se já tinha pensado sobre o que faria no futuro, caso não consiga ter ser ‘bodypiercer’ responde: “sim, já pensei nisso. Mas acredito que, no futuro, a sociedade já tenha evoluído de uma forma favorável”. Acaba por ser inevitável falar sobre a discriminação que ainda há na sociedade relativamente a ‘piercings’ e tatuagens. “Em Pombal, sendo um meio mais pequeno, ainda olham de lado. No meu caso, nem tenho muito mas mesmo assim, quando ia, por exemplo, ao supermercado, sentia-me olhada como se fosse uma montra. Era claro algum olhar discriminador mas, ao mesmo tempo, acho que já foi pior”, confessa Laetitia. E, acrescenta: “Ainda bem que, hoje em dia, as pessoas já aceitam melhor. Acredito que se fosse na altura dos nossos pais deveria ser bem pior. Mas ainda há algumas pessoas conservadoras sobre isso. Ter tatuagens ou ‘piercings’ não faz de nós mais ou menos que os outros. É como, por exemplo, andar maquilhada ou com unhas arranjadas. Somos todos iguais mas com gostos diferentes”.
Pombal, 12 Março 2016
Rui Miguel Pedrosa
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