Alexandre Nico, 47 anos. Natural de Lisboa, está em contacto com o mar da Nazaré desde os três anos. Foi onde começou a nadar e onde começou a fortalecer a sua paixão pelo surf. Ou seja, o mar é a sua 'praia', desde o surf, passando pelo mergulho e pela pesca submarina. Mas foi quando disse ter sido o primeiro português a surfar no Pororoca que despertou a minha atenção. “Sempre tive uma vida ligada ao desporto. Desde a licenciatura até, mais tarde, criar uma empresa de formação em desporto, publicidade e venda de equipamento técnico, tendo trabalhado no alto rendimento desportivo e em paralelo como treinador, onde tive o prazer de treinar vários atletas”. E foi ai, conta, que procurou alcançar objectivos específicos para si. “Surgiu a ideia de procurar locais remotos de difícil acesso para a prática do surf. Tive conhecimento da Pororoca, no rio Amazonas. E sabia que iria ser o primeiro português a surfar aquelas ondas”. No rio Amazonas há um fenómeno natural caracterizado por grandes e violentas ondas que são formadas a partir do encontro das águas do mar com as águas do rio que são denominadas como Pororoca. “Foi um ano de preparação com base no treino físico e de resgate, para o caso de algo correr mal. Mas mesmo assim, quando lá cheguei senti uma apreensão enorme. O perigo que corremos é enorme. Essas ondas chegam a atingir dimensões assustadoras e vão de um lado ao outro do rio com uma força tal que chega a arrastar árvores”, conta Alexandre, revelando que depois de entrar na água e subir para a prancha que não se pensa em mais nada. A adrenalina atinge os limites. “Correu bem, consegui cumprir o objectivo numa onda que devia ter uns 3 metros de altura. Depois de ter saído da água nem sei o que pensei. Creio que senti melancolia porque, como tinha conseguido cumprir aquele objectivo, aquele local deixou de ter interesse”. Actualmente, Alexandre tem uma vida, como o próprio diz, “de ruralidade". Os estímulos que antes sentia "estão adormecidos”. Porém, não excluí a hipótese de, um dia, voltar a essas aventuras. Até lá, desloca-se com frequência à Nazaré para sentir a nostalgia de outros tempos. E conclui: “Costumo dizer que vou lá surfar com os olhos”.
Alcobaça, 28 Março 2016
Rui Miguel Pedrosa
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