Armando Vieira das Neves, 60 anos - Quando encontrei o Sr. Armando ele estava a pedalar com muita vontade. Cumprimentei-o e sentei-me ao seu lado e estivemos à conversa. "Venho aqui quase todos os dias. Ando aqui à volta no parque e depois venho aqui pedalar, só é pena estes pedais não terem tensão nenhuma, mas dá para suar." O Sr. Armando tinha um sotaque e a sorrir disse-me "Sou de Portalegre, mas já ca estou em Lisboa desde 1970, vim para cá para Lisboa e trabalhei 44 anos no mesmo local como serralheiro civil." Perguntei-lhe se já estava reformado "Não, infelizmente estou desempregado. A empresa onde trabalhava arranjava principalmente carros camarários, mas como as câmaras também estão sem dinheiro, o trabalho foi diminuindo, diminuindo e acabou por não haver nada, uns ainda foram de lay-off mas depois a empresa foi à falência e fechou". Lembrei-me de um post que vi hoje no facebook, onde um amigo meu que infelizmente também está desempregado escrevia "Não tenho uma pulseira electrónica mas tenho uma apresentação quinzenal." e comentei isso com o Sr. Armando ao que me respondeu "É verdade, de quinze em quinze dias lá vou eu à junta de freguesia meter carimbos!" Perguntei-lhe se já tinha aparecido algum trabalho "oh, se não há para os novos, para mim que sou velho nem pensar! é o que faz esta crise! Como não há nada, em vez de ficar em casa, vou vindo aqui, faço o meu exercício, ainda não perdi a minha barriga, mas já perdi uns quilos, até já consigo correr devagarinho." O Sr. Armando tinha um boné onde se lia Paris e perguntei-lhe se já lá tinha ido "Fui e gostei muito e trouxe este boné" e a rir rematou "Fui lá a um casamento, saiu-me caro mas enfim, gostei e valeu a pena"
Lisboa, 15 de Fevereiro de 2016.
Miguel A. Lopes
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